Por:Wilson Albino Pereira
Depois que uma labareda se alastra não tem mais solução. Nesse aspecto, paixão e fogo se assemelham. Talvez seja por isso que arrebatados pelo desejo, homem e mulher se entregam frenéticos e insaciavelmente ao sexo.
Nessas loucas relações só uma regra prevalece: não há regras. Porém, tudo que é celebrado entre quatro paredes, pode nascer e acabar pelos mesmos motivos – interesses, mentiras e omissões.
Tornar-se eternamente a ‘outra’, pode ser a sina de quem assume o complexo papel de amante. Sob pseudônimos, algumas mulheres revelaram pedaços felizes e cacos “perfuro-cortantes” de suas histórias. Os sorrisos, as vozes embargadas e as lágrimas durante as entrevistas são provas de que recordar é mesmo viver.
VOU TIRAR VOCÊ DESSE LUGAR
Glaura, 30 anos, foi a primeira entrevistada. Ocupação: garota de programa. Ela acreditava que profissionais do sexo só, prestavam serviços, até se apaixonar por um cliente. “Ele era diferente. Tão gentil e cheiroso!” Vestidos no quarto, falavam de tudo.
Glaura disse que ele pagou algumas vezes só para conversar. “Um dia, me deu flores e chocolate. Nessa ocasião ficamos abraçados e mudos durante um tempão. Nesse mesmo dia que ele me chamou para ir a Ouro Preto. Aceitei, pois eu já estava a fim dele”.
Mesmo fazendo de 30 a 35 programas por dia, nos fins de semana, Glaura era exclusiva de seu bem. “Eu topava fazer o que ele pedisse. A seu lado eu me sentia amada, cuidada, protegida…”
O relacionamento chegou ao fim depois de dois anos. “Ele me falou que morava com uma pessoa havia tempos, que estávamos errados, e, por fim, que iria se casar em breve. Me senti um lixo, humilhada, trocada e traída. Propus que ficasse com ela e comigo, mas, ele rejeitou. Implorei, chorei, ameacei contar sobre a gente, mas, não adiantou… Depois disso me desiludi”, relata com olhos lacrimejados.
TRÊS É DEMAIS
Marília, 26 anos, é a segunda entrevistada. Formada em Letras, trabalha hoje como assistente administrativa. Ao tomar um táxi no sentido Centro\bairro, o motorista puxou conversa, mas ela não rendeu assunto. Notou que durante o trajeto ele a espionava pelo retrovisor.
Marília achou estranhou quando passou a vê-lo frequentemente. Mais tarde descobriu que ele era casado e morava a cinco quarteirões de sua casa. “Numa sexta-feira, enquanto esperava ônibus, ele estacionou o táxi e perguntou se eu estava indo para casa. Disse que estava. Então entra aqui, ele falou.
Entrei receosa, e, um minuto depois começou o interrogatório. Ele perguntou meu nome, minha idade, se eu tinha namorado, se eu bebia. Pensei – que chatice!”.
“De repente parou o carro e me tacou um beijo na boca… Fiquei sem fôlego”, conta de olhos fechados. “Naquela mesma noite ele quis sair comigo. Pensei na mulher dele, imaginei que isso podia dar rolo. Eu disse ‘não’, mas, querendo dizer ‘sim’.
Ela se considerava Inexperiente na cama. E cheia de pudores. “Tive medo de não corresponder às expectativas” afirma. Dias depois recebeu novo convite, e, dessa vez aceitou e não se arrependeu.
Foi a primeira vez que ela sentiu seu sexo tocado pela língua de um homem. “Senti prazer como nunca! Ele fazia umas coisas comigo… Bom demais fazer amor com ele viu?!”, comenta saudosa.
Como não há mal que nunca se acaba ou bem que dure eternamente, depois de um ano, tudo chegou ao fim. “Descobri que ele tinha se envolvido com uma terceira mulher. Quando o questionei, ele deu de ombros, disse que nunca havia me prometido nada. Sofri calada. Mas, aprendi a lição.”
DUPLAMENTE ENGANADA
Aos 40, e no auge. Assim se sente Rosa. Ela procura se manter ocupada, malha, trabalha e estuda de segunda a sábado. E, está a um passo de realizar um de seus maiores sonhos, tornar-se advogada.
Rosa fala sobre um relacionamento conturbado. “Nós nos conhecemos numa festa. Fomos apresentados por um amigo em comum. Varamos a madrugada conversando. Se eu dizia que gostava de uma música, comida ou filme, ele dizia que nossos gostos eram idênticos… falsidade pura!” diz admirada.
“Hoje, tenho consciência de que ele atuava todo tempo. Mas, quando a gente se apaixona, enlouquece”, afirma. “Ele foi o meu primeiro. Ir para cama nem era lá essas coisas… O que me agradava era a companhia dele, o cheiro, a voz, o toque, o riso” relembra.
“Depois de uns meses, o amante começou a me pedir dinheiro emprestado. Como imaginava ter encontrado minha alma gêmea, nunca fiz objeções. Eu sempre ouvia dele promessas de que nos casaríamos, teríamos filhos e seríamos felizes”. Contudo, o tempo foi passando e nada de casório.
“Um dia vi uma foto em sua carteira, pressionei, e ele confessou. Fiquei furiosa quando descobri que já era casado e tinha filhos,” diz. “Ele sempre dizia que estava mobiliando um apartamento para gente… ‘Vai ser nosso cantinho, amor’. Perdi a conta de quantos empréstimos eu fiz e entreguei em suas mãos.
Depressiva, fiquei meses sem sair de casa. Não pude contar para minha família. Se a sociedade vê a ‘outra’ como vadia, vagabunda e destruidora de lares, imagina o que meus pais pensariam?”, conclui.
O fato de não poder desabafar aumentou a angústia de Rosa. Eu pensava 24 horas no ocorrido. Por pouco não perco o juízo. Se eu pudesse retroceder no tempo, faria diferente.
As poucas coisas boas que vivenciei foram apagadas. Senti tanta dor! Nem sei como suportei. Por um longo período, a música Andança; foi meu tema. Sabe aquele trecho? – “Por onde for que ser seu par”. Pois é. Era impossível ouvir sem desabar no choro. Hoje, mantenho corpo, mente e espírito ocupados, afirma esperançosa.